Foto: Joaquim Martins Paz |
Nunca conversei com uma pessoa nascida em berço budista, que já traga a cultura de seus antepassados, e talvez isso me condene. Mas através de algumas experiências tirei minhas próprias conclusões a respeito do assunto. O budismo foi apresentado para mim através de blogs e textos provenientes da internet e, apesar de eu ter lido textos muito bem embasados e aprofundados na rede, nenhum me deu a resposta para a pergunta: Afinal, Budismo é religião ou filosofia? Então, recorri a fontes bibliográficas, mais especificamente ao livro Budismo Claro e Simples, do escritor Steve Hagen, além de algumas obras básicas de Dalai Lama.
Mas foi Budismo Claro e Simples que me ajudou na busca da solução desta questão que latejava em minha cabeça. No livro, Hagen apresenta sua visão do Budismo de forma quase didática, retomando conceitos a cada capítulo, batendo nas mesmas teclas durante todo o livro. Seu objetivo era destacar os pontos fundamentais da cultura e, segundo o autor, o mais importante deles é praticar o ato de Ver. Um parágrafo que praticamente resume o livro em poucas palavras é apresentado por Hagen ainda no início da obra. Nele, o autor explica:
O Budismo não é um sistema de crença. Não versa sobre aceitar certas doutrinas nem acreditar num conjunto de reivindicações ou princípios. Na realidade, é exatamente o oposto. Ele versa sobre examinar clara e cuidadosamente o mundo, sobre testar todas as coisas e cada ideia. O Budismo é sobre ver. Conhecer em vez de acreditar ou esperar ou querer. Também é sobre não ter medo de examinar qualquer coisa e todas as coisas, incluindo as nossas próprias atividades.
Analisando o Budismo dessa perspectiva, pode-se dizer tranquilamente que o mesmo é uma filosofia, pois não segue dogmas e não utiliza-se da fé, na frase "Conhecer em vez de acreditar" Hagen deixa isso claro. Ao terminar a leitura do livro, era o que eu realmente acreditava. Porém, ao visitar o templo budista localizado na cidade de Três Coroas - RS, deparei-me com um paradoxo. No local, Sidarta Gautama, o Buda, era elevado ao patamar de Deus. Além disso, nos textos explicativos espalhados pelo local, percebe-se um misticismo equivalente a crença de Eva ter nascido das costelas de Adão. Ou seja, tudo envolvia o ato de acreditar, o mesmo que Hagen rejeita em sua obra.
Resumindo, conclui que existe tanto a Religião Budista como a filosofia Budista. As pessoas que pensam como Steve Hagen fazem parte do grupo denominado por este de a "Doutrina dos Despertos", que basicamente é uma filosofia baseada no ato de conhecer, testar e duvidar antes de acreditar. Já as pessoas que veneram Buda e seguem dogmas e costumes, fazem parte da crença budista, pois a partir do momento que uma filosofia utiliza-se da fé em vez da razão, podemos chama-la de religião.
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