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Foto: Joaquim Martins Paz |
Um dos maiores prazeres da minha vida é conhecer visões de mundo distintas, seja através da filosofia, política ou religião. Está última, principalmente, sempre recebeu uma atenção maior de minha parte, pois é um tema discutido em meu círculo familiar, pelos meus pais, primos e afins, já que em minha família existem pessoas de inúmeras crenças. Pode-se dizer que minha família é um caldeirão de ideologias de vida, e isso é ótimo. Dessa forma, já cresci com uma cabeça liberal, sem bloqueios a nada, o que me permitiu entrar em contato e conhecer a fundo inúmeras religiões. Uma crença que me cativou desde o momento em que tive o primeiro contato com ela (não lembro exatamente quando foi) foi o Budismo. Muitos definem a mesma como uma religião, porém, as pessoas mais estudadas a caracterizam como uma filosofia de vida. Bem, terei de discordar dos dois grupos.
Nunca conversei com uma pessoa nascida em berço budista, que já traga a cultura de seus antepassados, e talvez isso me condene. Mas através de algumas experiências tirei minhas próprias conclusões a respeito do assunto. O budismo foi apresentado para mim através de blogs e textos provenientes da internet e, apesar de eu ter lido textos muito bem embasados e aprofundados na rede, nenhum me deu a resposta para a pergunta: Afinal, Budismo é religião ou filosofia? Então, recorri a fontes bibliográficas, mais especificamente ao livro Budismo Claro e Simples, do escritor Steve Hagen, além de algumas obras básicas de Dalai Lama.
Mas foi Budismo Claro e Simples que me ajudou na busca da solução desta questão que latejava em minha cabeça. No livro, Hagen apresenta sua visão do Budismo de forma quase didática, retomando conceitos a cada capítulo, batendo nas mesmas teclas durante todo o livro. Seu objetivo era destacar os pontos fundamentais da cultura e, segundo o autor, o mais importante deles é praticar o ato de Ver. Um parágrafo que praticamente resume o livro em poucas palavras é apresentado por Hagen ainda no início da obra. Nele, o autor explica:
O Budismo não é um sistema de crença. Não versa sobre aceitar certas doutrinas nem acreditar num conjunto de reivindicações ou princípios. Na realidade, é exatamente o oposto. Ele versa sobre examinar clara e cuidadosamente o mundo, sobre testar todas as coisas e cada ideia. O Budismo é sobre ver. Conhecer em vez de acreditar ou esperar ou querer. Também é sobre não ter medo de examinar qualquer coisa e todas as coisas, incluindo as nossas próprias atividades.
Analisando o Budismo dessa perspectiva, pode-se dizer tranquilamente que o mesmo é uma filosofia, pois não segue dogmas e não utiliza-se da fé, na frase "Conhecer em vez de acreditar" Hagen deixa isso claro. Ao terminar a leitura do livro, era o que eu realmente acreditava. Porém, ao visitar o templo budista localizado na cidade de Três Coroas - RS, deparei-me com um paradoxo. No local, Sidarta Gautama, o Buda, era elevado ao patamar de Deus. Além disso, nos textos explicativos espalhados pelo local, percebe-se um misticismo equivalente a crença de Eva ter nascido das costelas de Adão. Ou seja, tudo envolvia o ato de acreditar, o mesmo que Hagen rejeita em sua obra.
Resumindo, conclui que existe tanto a Religião Budista como a filosofia Budista. As pessoas que pensam como Steve Hagen fazem parte do grupo denominado por este de a "Doutrina dos Despertos", que basicamente é uma filosofia baseada no ato de conhecer, testar e duvidar antes de acreditar. Já as pessoas que veneram Buda e seguem dogmas e costumes, fazem parte da crença budista, pois a partir do momento que uma filosofia utiliza-se da fé em vez da razão, podemos chama-la de religião.